quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ser mais crítico e menos deslumbrado é uma questão de sobrevivência.

Nunca gostei de coisas cercadas de pompa porque elas acabam por desviar a nossa atenção da essência daquilo que estamos vendo. Imagine, por exemplo, a Monalisa exposta num ponto de ônibus no centro de São Paulo. Sem dúvida que o quadro não teria o mesmo glamour da exposição num museu, embora se trate da mesma obra esteja onde estiver.

Isso nos leva à uma questão permanente: qual a influência que o ambiente tem naquilo que valorizamos?

A gente sabe que o valor das coisas é algo puramente pessoal, mas ninguém tem certeza do tamanho da influência exercida pelo ambiente na atribuição desse valor. De qualquer forma, uma coisa é certa: o ambiente faz diferença.

Se não fizesse, por qual razão as pessoas procurariam se vestir bem, terem casas e carros bonitos, estudarem em escolas renomadas e até escolherem profissões reconhecidamente mais "nobres"? É fato que o ambiente influencia os desejos e o comportamento das pessoas, mas até que ponto?

Esse é um perigo que ronda nossas vidas, desde que o homem descobriu que poderia valorizar a si mesmo usando recursos externos a ele.

Foi assim, por exemplo, que o mundo parou para assistir ao glamouroso casamento real de Charles e Diana. No entanto, toda a magia e pompa do ambiente não foi suficiente para evitar o desastroso relacionamento entre eles.



E já que estou usando a realeza como exemplo, se dermos uma olhada nas periódicas caçadas do rei Juan Carlos de Espanha, talvez tenhamos uma ideia do homem que se esconde por detrás de toda a pompa de sua monárquica posição. Após os escândalos da publicação das fotos sobre suas caçadas "licenciadas", qual seria o seu crédito se resolvesse  abraçar a causa da proteção aos animais?



Isso mostra que, a despeito do ambiente, o qual exerce influência em nossa atribuição de valores (tanto às pessoas quanto às coisas), existem, por outro lado, limites que quando ultrapassados só restará o próprio homem abraçado à sua essência, isto é, com suas virtudes e defeitos, seus desejos e ansiedades, sua bondade e maldade.

Salvo os exageros dos exemplos que usei citando a "pobre" realeza, todos os dias nós somos atraídos para fora da essência das coisas. Todos os dias somos convidados a reconhecer valores onde apenas uma parte desse valor lhes realmente caberia. Todos os dias estamos sujeitos às armadilhas das imagens, da pompa, dos apelos de consumo, das ofertas que parecem nos dar alguma vantagem.

Esses disfarces nos desviam a atenção da essência das coisas, tornando-nos muitas vezes complacentes ao convívio da hipocrisia e dos discursos vazios. É por isso que compramos tantas coisas que pouco nos servem. É por isso que pagamos altos preços por coisas que nos dão pouco prazer. É por isso que nos enganamos tanto com as pessoas.

Por isso, para aprendermos a buscar a essência das coisas é preciso evitar o deslumbre com as "embalagens". Isso requer que sejamos mais críticos, o que não significa desconfiados e tampouco avessos à beleza. Mas essa é a única forma para entendermos que algo realmente valioso não precisa contar com nada além dele mesmo. Assim seria a Monalisa no ponto de ônibus, se todos os passageiros tivessem a percepção de seu valor histórico e artístico.

Desenvolver essa percepção nos propicia cometer menos erros de avaliação e nos permite fazer melhores escolhas, as quais, sem dúvida, nos darão mais segurança diante do que "vemos" e do que sentimos.

Se olharmos para as situações procurando vê-las sem o deslumbre que as distorce, pode ser que isso seja a ponte que nos separa da felicidade e de um grande erro. Aprender a descortinar as "coisas" nos permite encontrar a verdade e sobretudo revelar as "pessoas" que sempre estão por detrás dela.

- by Dalton Cortucci

(Visite o meu site: www.brcoaching.com.br )


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